Higienização bucal vs dificuldades motoras: desafios para os cuidadores
A higienização bucal em pacientes com dificuldades motoras nem sempre é uma tarefa simples, principalmente para pacientes pouco cooperativos associados a transtornos psicológicos ou mentais.
Os transtornos mentais são desordens comumente associadas à capacidade ou sofrimento significativo que podem afetar as atividades sociais, profissionais e diárias de um indivíduo. De acordo com o Censo 2010, em quase 191 milhões de brasileiros, cerca de 45 mil são diagnosticados com alguma deficiência. Contudo, 1,4% desse grupo receberam o diagnóstico de algum tipo de transtorno.
Iremos aqui apresentar as principais doenças que comprometem a saúde bucal dessas pessoas. Além disso, contribuir com algumas dicas de higienização bucal para auxiliar os pais e cuidadores nessa tarefa.
A cárie é a principal doença para esse grupo
De acordo com estudos recentes realizados no Brasil, os achados bucais de pessoas com transtornos mentais apontam para um índice elevado de cárie. Além dela, as doenças periodontais e lesões de tecidos moles, tais como leucoplasias, candidíase, ulcerações, fístulas são também muito comuns.
As patologias bucais dessa população estão diretamente relacionadas a má higienização bucal e a(s)/ao:
- Dificuldades motoras;
- Alimentação rica em sacarose;
- Tabagismo;
- Uso crônico de medicamentos;
- Pouco envolvimento do cuidador; e
- Falta constante de profissionais habilitados no atendimento desses pacientes.
Seis dicas para melhoria da higienização bucal
As principais dificuldades apresentadas pelos cuidadores desse grupo estão relacionadas ao manejo. As limitações motoras, agressividade, desinteresse e cooperação dificultam a manutenção da higiene oral.
As dicas abaixo têm por objetivo criar uma rotina de controle mecânico e químico da placa bacteriana. Possui ainda, o propósito de estimular os cuidadores na higienização bucal para que não percam o desinteresse diário.
Dica n° 1 – proteção contra mordidas
Uma mordida involuntária causa muita dor e desestimula o cuidador. Para evitar esse transtorno, utilize um instrumento que possa manter a boca do paciente aberta, enquanto realiza a higienização. Existem vários no mercado como dedeiras, blocos de borracha e abridores metálicos. Mas, também podem ser confeccionados. Aliás, são os que oferecem maior conforto para os pacientes pela melhor adaptabilidade, além do custo.
Uma dica bem simples utiliza materiais de fácil acesso como gaze, fita crepe e afastador de língua. Junte uns oito afastadores, una-os com fita crepe. Em uma das pontas junte as gazes, formando uma almofada, una as pontas das gazes com fita crepe. Ficará parecido com um cotonete. Insira cuidadosamente na lateral da boca do paciente. Este, ao pressionar a arcada dentária irá esbarrar no protetor. Assim, o cuidador estará protegido pelo acessório e poderá realizar a limpeza mecânica com segurança.
Dica n° 2 – limpeza mecânica
A limpeza mecânica é fundamental no controle da placa bacteriana. Existem várias maneiras de se fazer. A mais comum, utiliza a escova dental. Claro, se houver cooperação do paciente, utilize com alguns cuidados. Se não houver aceitação da escova, utilize gaze entre os dedos do cuidador para realizar a limpeza.
Escolha uma escova com cerdas macias e cabeça pequena para evitar o atrito em excesso e danificar o tecido gengival. Além disso, os microrganismos retirados da cavidade bucal penetram nas cerdas. Para evitar a proliferação de bactérias, antes e depois da escovação, higienize com material químico, ao final, seque e guarde em local seco.
Muitas vezes a escovação dental isolada é insuficiente. Não remove a placa interdental por completo. Em 95% dos casos é necessário que dispositivos auxiliares como enxaguatórios bucais, fios/fitas dentais, entre outros sejam utilizados.
Dica n° 3 – limpeza química
O bochecho com qualquer antisséptico bucal, como por exemplo, a clorexidina a 0,12% após a limpeza mecânica é o ideal. A maioria das vezes o paciente não possui habilidades para esse manejo, a melhor forma é associar a limpeza química com a mecânica.
Coloque um pouco do antisséptico bucal na gaze e realize a higienização dessa forma. Esse procedimento potencializa a assepsia reduz a quantidade de microrganismos presentes na cavidade oral.
Dica n° 4 – como usar o fio dental
O fio dental é o responsável pela higiene nas áreas entre os dentes, onde a limpeza mecânica é incapaz de remover adequadamente a placa bacteriana.
Os pacientes com dificuldades motoras podem ser beneficiados com o uso do fio/fita dental utilizando uma técnica chamada “LOOP”. Utilize uns 30 cm de fio dental amarrando as extremidades. O círculo formado facilita a limpeza interdental com a ajuda dos dedos indicadores do cuidador.
Se o acesso for impedido pela limitação de abertura, existe alternativa de utilização de fio dental pré-fabricados. Pela forma anatômica, esse acessório facilita o acesso nas regiões posteriores.
Dica n° 5 – sangramento após a limpeza
Observe sempre a coloração da escova ou gaze durante a limpeza mecânica. Se houve sangue fique atento.
Um sangramento gengival após uma higienização não é normal. Alguns fatores podem estar ocorrendo desde a má higienização até alterações hormonais, anticoagulantes (afinadores do sangue), anticonvulsivantes e imunossupressores podem levar à hiperplasia e sangramento gengival. Se ocorrer, procure a ajuda de um profissional.
Dica n° 6 – orientação profissional
A Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais (leia mais), atua com uma necessidade latente de conhecer integralmente as necessidades dos pacientes com transtornos mentais, incluindo a humanização na acolhida destes indivíduos.
O suporte oferecido para os cuidados diários em saúde bucal, além da avaliação completa, incluem orientações sobre a melhor conduta para higienização dos pacientes que necessitem de cuidados especiais.
Faça visitas mais frequentes ao especialista até ajustar e personalizar melhor a conduta para manutenção da higienização. Essas avaliações farão com que o profissional estime o intervalo mais adequado para futuras manutenções.
A sedação consciente e a importância para pacientes não cooperativos
A sedação consciente é uma ferramenta importante e segura para auxiliar e permitir que tratamentos odontológicos sejam realizados integralmente em pessoas com transtornos mentais.
A sedação consciente endovenosa (leia mais sobre Sedação) pode acontecer com a utilização de medicamentos prescritos por um anestesista, que acompanhará todos os procedimentos durante a realização.
Artigos científicos:
Variation in oral health parameters between older people with and without mental disorders
Estratégias de Acolhimento e Condicionamento do paciente Autista na Saúde Bucal Coletiva
Serviços relacionados:
Sedação na Odontologia > Day Clinic > Pacientes com Necessidades Especiais > Odontologia Hospitalar > Fisioterapia Respiratória > Laserterapia
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